2011 foi um ano ruim para os países pobres, para os pobres de todos os países e para o meio ambiente
Os Estados Unidos continuaram a massacrar a população do Afeganistão e a matar civis inocentes no Iraque, apesar das reiteradas afirmações de Obama sobre a retirada das tropas norte-americanas daquele país. E a fome voltou a martirizar milhões de pessoas na Somália.
Positivas, mas problemáticas, foram as rebeliões populares nos países islâmicos, bem como na Europa e nos Estados Unidos.
Positivas porque significam a retomada da pressão popular contra o capitalismo, após anos de apatia; problemáticas, porque, conforme seu desenvolvimento, podem provocar um novo surto fascista, como se viu em situações similares no passado.
No elenco das ruindades, é preciso registrar a depredação da natureza, que se intensificou no ano passado, e a recusa dos Estados Unidos de retirar seu veto ao Protocolo de Kyoto.
Os desastres naturais que se multiplicaram no ano que passou são a demonstração cabal de que a depredação está ameaçando a nossa existência no planeta. O Brasil contribuiu para a catástrofe e ocupa hoje o sexto lugar entre os países mais poluidores.
No campo da economia, a crise econômica que se abateu sobre o mundo a partir de 2009 não deu sinais de trégua.
Como sempre, o remédio adotado pelos governos se constituiu em penalizar os pobres, privando-os de bens e serviços indispensáveis ao seu bem-estar, além do favorecimento aos ricos, especialmente os banqueiros.
Felizmente não foram unicamente ruins os fatos relevantes de 2011.
O ano viu também a queda de Berlusconi, embora seu substituto tenha adotado medidas financeiras prejudiciais às classes pobres.
Na França, um pontinho de esperança: aparentemente, o candidato da esquerda – François Holande – vencerá as eleições que se aproximam. Não se deve esquecer, contudo, o risco de crescimento da extrema-direita, representada pela candidatura da filha de Le Pen, Marine. Ela não tem nenhuma chance de vencer o pleito, mas poderá ter uma votação significativa – o que lhe dará cacife para catalisar o descontentamento de parte importante da população francesa com a política imigratória do Estado francês.
Na América Latina, registra-se a heróica resistência do povo cubano, asfixiado pelo bloqueio norte-americano e obrigado, por isso mesmo, a fazer concessões ao capitalismo, por meio de reformas que estão quebrando a lógica do sistema socialista e causando perigosa divisão econômica entre a população.
Do Chile não vêm, igualmente, boas notícias. O presidente Piñera reprimiu violentamente os protestos estudantis contra a má situação do ensino público do país. Centenas de estudantes foram espancados pela polícia e outros tantos foram presos e processados.
De positivo, as vitórias do ex-tupamaro José Mujica, no Uruguai, e de Cristina Kirchner, na Argentina. Os dois casos, contudo, não são iguais: Cristina não tem a coerência de Mujica. Apesar disso, tendo em vista que a alternativa seria a eleição de um candidato da direita, a vitória da peronista foi positiva.
Ambíguo é o caso de Ollanta Humala no Peru. Visto como uma pessoa de esquerda, tomou, no governo, posições de direita, com direito inclusive a uma “Carta aos Peruanos”, nos moldes da famosa Carta ao Povo Brasileiro de Lula.
E entre nós?
Beneficiado pelo efeito contraditório da crise econômica mundial na economia brasileira, nosso povo embarcou, em 2011, numa espécie de euforia onírica. Incapaz de perceber o que de fato está acontecendo na economia, acreditou – e ainda acredita – estar vivendo um período de bonança. Isso porque tem recursos financeiros para adquirir bens e serviços que estavam acima de suas possibilidades nos anos anteriores. Não consegue ver que o preço dessa benesse é o comprometimento ainda maior da economia brasileira diante do capital estrangeiro e, portanto, um aprofundamento da dependência do país.
Este estado de espírito apresenta ainda outro aspeto negativo, na medida em que contribui para o endeusamento de Lula e, portanto, para a permanência da política nefasta que este desenvolveu nos seus oito anos de governo. As medidas adotadas pela presidenta “nomeada” por Lula o comprovam.
Dilma já reduziu os benefícios dos aposentados e as verbas para o ensino público; a depredação da natureza, herança maldita de governos anteriores, aumentou em vez de diminuir; além disso, seus primeiros meses de governo foram marcados por escândalos de corrupção.
Pior até mesmo do que a corrupção foi a aprovação do Código Florestal – uma lei que abre portas para que os grandes fazendeiros destruam impunemente nossas florestas.
Além da redução da nossa qualidade de vida, esse descalabro – ora legalizado – reforça a proposta de internacionalização da Amazônia, que expressa a cobiça das grandes potências internacionais sobre esta parte do Brasil.
Outro fato negativo foi a conduta do governo em relação ao pré-sal, pois, contrariando a opinião dos técnicos da Petrobrás, entregou parte da exploração do recurso a empresas privadas, cujos interesses colidem com os do país.
A disputa da Copa, em 2014, e a hospedagem da Olimpíada, em 2016, prejudicaram a população pobre, pois provocaram a expulsão dos moradores pobres dos locais onde vivem, a fim de ceder o espaço para as camadas ricas. A ocupação dos morros do Rio de Janeiro por sua corrupta e violenta polícia constitui uma das expressões dessa política.
Em resumo: um ano muito ruim, que precisamos urgentemente exorcizar.