A agência de classificação Moody's anunciou na quinta-feira (17) que rebaixou as notas de 16 bancos espanhóis entre um e três graus, por causa dos efeitos da atual recessão e da reduzida solvência financeira do governo espanhol.
Moody's cita entre seus argumentos para este rebaixamento da nota "a nova recessão, a crise imobiliária em curso e níveis altos de desemprego persistentes".
Além disso, destaca a "reduzida solvência da dívida espanhola" que "afeta a habilidade do governo de apoiar os bancos".
A Moody's também informou que os bancos estão sofrendo uma "rápida deterioração da qualidade de seus ativos, com um crescimento rápido de créditos não rentáveis a empresas imobiliárias". A agência disse que espera que outras categorias de empréstimos também se deteriorem.
A decisão afetou o maior banco espanhol Santander, com uma redução de três graus de sua nota a A3. O segundo do setor, BBVA, e outros dois grandes bancos, Banesto e CaixaBank, também tiveram suas notas reduzidas para A3.
Dados oficiais confirmaram que a Espanha voltou à recessão, e um jornal noticiou uma grande fuga de depósitos do Bankia. Por outro lado, o governo disse ter dado um passo fundamental para a credibilidade nacional, ao definir profundos cortes orçamentários com as perdulárias regiões.
Os bancos espanhóis estão cheios de dívidas "pobres" por causa do estouro na bolha imobiliária do país, e isso é um dos fatores preponderantes na atual crise da zona do euro, pois os mercados temem que qualquer medida do governo para salvar uma dessas instituições sobrecarregaria ainda mais suas já frágeis finanças, possivelmente tornando necessário um resgate internacional.
Gary Jenkins, analista de crédito da Swordfish Research, disse que a Espanha tem problemas que vão além do risco de contágio da crise da Grécia, que está ameaçada de deixar a zona do euro.
"Embora as atenções do mundo estejam voltadas para a Grécia, o fato é que a Espanha enfrenta muitos desafios, independentemente de como a situação grega afinal se resolver", escreveu ele em nota.
O Moody's cortou a nota do Santander e do BBVA, segundo maior credor espanhol, apesar de ambos serem considerados estáveis, ao contrário do que ocorre com algumas instituições financeiras menores.
Nicholas Spiro, da Spiro Sovereign Strategy, disse que o governo conservador de Mariano Rajoy não está lidando bem com a crise.
"O sentimento com relação à Espanha está se deteriorando a cada dia que passa, principalmente por causa de uma perda de confiança na abordagem do governo de Rajoy para lidar com os problemas no setor bancário."
Atraindo compradores
No leilão de títulos de quinta-feira, o Tesouro precisou pagar juros em torno de 5% para atrair os compradores para os seus papéis com vencimento em três e quatro anos. Este saiu com ágio de 5,106%, bem acima dos 3,374% do leilão anterior.
"Isso ... se encaixa no padrão de vendas recentes, com o Tesouro espanhol conseguindo escoar sua oferta, mas com ágios cada vez maiores", disse Richard McGuire, estrategista de juros do Rabobank, em Londres.
"Essa tendência desfavorável parece destinada a seguir firme ... Afinal, esse aumento do ágio acabará por exigir alguma forma de intervenção externa."
A Espanha oficialmente entrou em recessão no primeiro trimestre do ano, segundo dados definitivos divulgados nesta quinta-feira, e isso deixa o país sob a ameaça de uma crise prolongada, já que medidas de austeridade adotadas em toda a zona do euro dificultam a retomada do crescimento.
A Comissão Europeia alertou na semana passada para a seriedade das dívidas das 17 regiões autônomas (Estados) espanholas, que respondem por aproximadamente metade dos gastos públicos totais, e do déficit no sistema de bem-estar social.
Segundo a Comissão, isso impedirá a Espanha de cumprir sua meta de reduzir o déficit orçamentário de 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 para 5,3% neste ano.
A maioria das regiões descumpriu as metas de déficit no ano passado, mas o governo disse ter selado um acordo com os governos autônomos para cortar 13 bilhões de euros dos gastos públicos e aumentar a arrecadação em 5 bilhões de euros.
Após semanas de negociações, o ministro do Tesouro, Cristóbal Montoro, aprovou os planos apresentados por todas as regiões, exceto a pequena Astúrias (norte), que deverá apresentar um novo orçamento dentro de 15 dias.
"Demos um passo fundamental para a credibilidade da Espanha", disse Montoro a jornalistas. Nesta quinta-feira, a Moody's rebaixou também as notas de crédito de quatro regiões, inclusive Catalunha e Andaluzia.
As regiões que conseguirem cumprir as metas de déficit receberão ajuda do Estado para se financiar por meio de um novo mecanismo a ser introduzido até julho. O governo há semanas trabalha na criação dos chamados "hispanobônus", que permitirão que as regiões emitam títulos garantidos pelo Tesouro.