Bolsonóquio

As 7 mentiras do discurso de Bolsonaro na ONU

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As 7 mentiras do discurso de Bolsonaro na ONUJosé Cruz/Agência Brasil

Conjunto de lorotas durante o discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas foi do auxílio emergencial de 1.000 dólares à acusação de que índios e caboclos são os responsáveis pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal

A grande imprensa nacional dourou a pílula ao repercutir o discurso do presidente Jair Bolsonaro nas Nações Unidas terça-feira, 22. A maioria dos veículos evitou usar a palavra “mentiras” para classificar as lorotas contadas por Bolsonaro à comunidade internacional. Recorreram a termos mais indiretos como “polêmicas declarações”; “recortes feitos pelo presidente”; ou “Bolsonaro torceu informações”. Versões douradas à parte, os fatos mostram que o presidente mentiu solenemente no discurso de abertura 75ª Assembleia Geral da ONU.

 

Há pelo menos sete mentiras flagrantes no discurso de Bolsonaro na ONU. Não é de se estranhar que um presidente eleito com o apoio de uma máquina de fake news recorra ao expediente da mentira sempre que se sente acuado. Bolsonaro sabia que a ONU esperava ansiosa respostas sobre a cumplicidade do seu governo com a destruição ambiental das florestas ou explicações sobre sua omissão em relação à pandemia que já causou a morte de mais de 140 mil brasileiros, só pra citar duas questões-chave que hoje preocupam a comunidade internacional. Pressionado, Bolsonaro preferiu contar mentiras para tentar encobrir as verdades.

 

As mentiras de Bolsonaro não começaram no discurso da ONU. O presidente tem um histórico de bravatas. Levantamento semanal feito pelo site de combate à fake news, Aos Fatos, aponta que desde o início do governo até o último dia 20 (data da última atualização), Bolsonaro deu 1.675 declarações falsas ou distorcidas.

 

1 – Auxílio emergencial de 1.000 dólares

“Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior. Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1.000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo”. (Bolsonaro).

 

Mentiu. Com base no câmbio do dia 22/09 (R$ 5,54), ao dizer que concedeu auxílio emergencial de 1.000 dólares a 65 milhões de brasileiros, Bolsonaro estava afirmando que pagou R$ 5.540 mil a cada um dos beneficiários. Mas o valor para quem receber todas as parcelas do auxílio – 5 de R$ 600, mais 4 de R$ 300, não passa de R$ 4,2 mil, ou cerca de 760 dólares, ou seja, então está faltando mais 240 dólares ou R$ 1.329. Fica ainda a pergunta: Quantos brasileiros receberão ao final do programa emergencial todas as parcelas?

 

Bolsonaro ainda omitiu que foi contra o pagamento do auxílio proposta pelo Congresso, que inicialmente era de R$ 500 – ele defendia parcela de R$ 200, quem propôs o aumento para 1 salário mínimo foram os deputados da oposição. Foi quando o Congresso bateu o martelo em R$ 600. Depois, quando percebeu que o auxílio rendia popularidade, quis se apropriar da autoria do benefício.

 

2 – Destruição ambiental

Bolsonaro desafiou os satélites e negou as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Disse que seu governo é vítima de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”.

 

Sem ter explicações para o fato de seu governo ser cúmplice das queimadas que dizimaram cerca de 28% do território amazônico em julho e já consomem mais de 20% do Pantanal, Bolsonaro afirmou: “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”.

 

Mentiu. Ambientalistas ouvidos pela imprensa desmentiram Bolsonaro. Eles afirmam que a floresta amazônica era úmida há 60 ou 70 anos. Porta-voz do Greenpeace, Rômulo Batista, disse ao jornal O Globo, que há 15 anos na Amazônia não se pode mais falar da região como uma floresta primária. “A Amazônia sofre com desmatamento, extração de madeira, clareiras, e isso faz com que mais sol entre no interior da floresta e seque a matéria orgânica, o que favorece quando há incêndio. Ela queima mesmo úmida. De 1º de setembro até hoje, 44% dos focos foram em áreas de floresta já degradadas”.

 

O porta-voz do Greenpeace também negou que caboclos e índios, como acusou Bolsonaro, seriam os responsáveis pelos incêndios. “Não tem a mínima condição de imaginar que uma comunidade indígena é responsável por um incêndio de 200 km². Indígenas, caboclos e ribeirinhos fazem um roçado numa área de 20 x 20 metros, um fogo que não se alastra”, diz Antonio Oviedo, do ISA. “Sobrevoei áreas desmatadas, e depois queimadas, de 4 mil, 5 mil hectares. É inconcebível um pequeno agricultor, um ribeirinho ou uma família indígena fazer isso”, afirmou Batista.

 

3 – “Tolerância zero com o crime ambiental” 

Bolsonaro quis convencer os países membros da ONU que seu governo tem “tolerância zero com o crime ambiental”.

 

Mentiu. Os números mostram que as multas ambientais despencaram na gestão Bolsonaro. Levantamento da BBC News Brasil apontou que no Pantanal a aplicação de infrações ambientais caiu 48%. O Ibama, em 2019, aplicou apenas 1/3 das multas em comparação a 2018. Deixou de revelar também aos líderes mundiais (se é que eles não sabem) o que pensa seu ministro do Meio Ambiente sobre as políticas punitivas para coibir os crimes ambientais. Na reunião ministerial de 22 de abril, o ministro Ricardo Salles sugeriu que o governo aproveitasse que a cobertura da imprensa estava voltada para a pandemia para “passar a boiada”, ou seja, afrouxar as regulamentações ambientais.

  

4 – Pandemia 

Com 4,5 milhões de casos e mais de 138 mil mortes, o Brasil é apontado pelas OMS como um dos países em situação crítica no enfrentamento da pandemia. Bolsonaro é criticado por seu negacionismo em relação à doença. Em seu discurso, o presidente tentou convencer os líderes dos países membros que não pode ser responsabilizado pelas mortes. Parte da responsabilidade Bolsonaro empurrou para os estados e municípios que, segundo ele, receberam autonomia do Supremo para fazer a gestão da pandemia. A outra parte da responsabilidade ele transferiu para imprensa: “Parcela da imprensa brasileira politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população”, acusou Bolsonaro.

 

Mentiu. Na verdade, o Supremo deu autonomia a estados e municípios, mas não isentou o Governo Federal de responsabilidade sobre a pandemia. “O Supremo não exonerou o Executivo federal das suas incumbências porque a Constituição Federal prevê que, nos casos de calamidade, as normas federais gerais devem existir”, disse o ministro do STF, Luiz Fux.

 

Quanto à imprensa, desde o início da pandemia, fez um importante trabalho de prestação de serviço, levando à população informações baseadas em dados científicos. Não houve qualquer movimento conspiratório por parte da imprensa, como sugeriu o presidente, para transmitir à população um estado de caos. Com uma média de mais de mil mortes por dia no auge da pandemia e com um ministro interino à frente da Saúde, o caos já havia sido instalado pelo próprio presidente. Bolsonaro negou a doença o tempo todo, incentivou aglomerações, menosprezou o potencial letal do vírus e chamou de covardes os que seguiram o isolamento social como medida mais efetiva de prevenção recomendada pela OMS. Bolsonaro ainda promoveu uma verdadeira fábrica de fake news, fazendo propaganda da hidroxicloroquina como droga capaz de combater o vírus, desdenhou do uso de máscaras e criticou a adoção de medidas para conter a aglomeração, como o controle de abertura do comércio.

 

5 – “Milagre” da Hidroxicloroquina

A hidroxicloroquina, apontada por Bolsonaro desde o início da pandemia como a “cura possível” da covid-19, não poderia ficar fora do discurso do presidente. Garoto propaganda da droga aqui, ele não corou ao dizer à comunidade internacional que seu governo defendeu o “tratamento precoce”.

 

Mentiu. A comunidade científica internacional já descartou há meses que a hidroxicloquina tenha qualquer efetividade no tratamento da covid-19 em pacientes que apresentam os primeiros sintomas da doença, ao contrário, podem agravar o risco de outras doenças devido seus efeitos colaterais. Mas Bolsonaro insiste em mentir sobre a hidroxicloroquina, colocando milhares de pessoas em risco no Brasil que seguem a “prescrição” recomendada irresponsavelmente pelo presidente.

 

6 – Destruição dos povos indígenas

Cobrado pela comunidade internacional pelo fato de seu governo estar sendo conivente aos ataques de grileiros e garimpeiros às reservas indígenas, Bolsonaro afirmou que os índios “são bem assistidos” pelo seu governo. Disse que seu governo distribuiu a mais de 200 mil famílias indígenas auxílios alimentícios e desenvolveu políticas de prevenção à covid.

 

Mentiu. De acordo com a BBC News Brasil, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, afirmou que as populações nativas têm sido cinco vezes mais atingidas do que a média da população brasileira pela covid. A própria ONU que “no Brasil, as comunidades Yanomami encaram uma crise existencial e sanitária pelo contato com mineradores ilegais”.

 

7 – Combate a “cristofobia”

Uma das pérolas do discurso, reservada para o final, foi a tese da “cristofobia”. Disse Bolsonaro: “O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”. Sem explicar o que quis dizer com o termo “cristofobia”, ficou óbvio deduzir que ele estava mandando a mensagem para a bancada da bíblia no Congresso que é a principal fiadora dos votos de milhares de fiéis no Brasil. Bolsonaro deu a entender que o povo cristão sofre perseguição no Brasil.

 

Mentiu. Quem tem sofrido perseguição e ataques são as religiões de matriz africana, sobretudo o Candomblé e a Umbanda. Sob o governo Bolsonaro, disparou o ódio a essas religiões. São recorrentes os ataques a terreiros e templos das religiões afro-brasileiras.

Fonte SEEB do ES
Postado por Gustavo Mesquita em Notícias

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