Frigorífico Marfrig obteve empréstimos de R$ 750 milhões do banco desde 2009
Executivo que recebeu quase R$ 1 milhão de empresário está sob investigação desde que foi afastado do banco
O dinheiro que alimentou depósitos de quase R$ 1 milhão na conta do ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Toledo em 2011 tem como origem o grupo Marfrig, controlador de um dos maiores frigoríficos do país e cliente do banco.
Toledo foi demitido no fim do ano passado, em meio a uma crise na cúpula do Banco do Brasil. Os depósitos em sua conta estão sendo examinados por uma investigação interna do BB e pela Polícia Federal.
Antes de chegar à conta de Toledo, o dinheiro passou pelas contas de um empresário que tem negócios com o dono da Marfrig e uma aposentada que teria vendido uma casa. Nenhuma das transações que teriam justificado os depósitos têm registro oficial.
Toledo começou a ser investigado depois de sua demissão, quando os depósitos em sua conta chamaram a atenção do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de inteligência do Ministério da Fazenda cuja função é analisar movimentações atípicas como essa.
O dinheiro foi depositado em cinco parcelas na conta de Toledo de janeiro a julho de 2011, quando ele ocupava a vice-presidência de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do BB.
A Marfrig confirmou que realizou "diversas transações financeiras" no ano passado com o empresário Wanderley Mantovani, titular da conta pela qual o dinheiro passou antes de chegar a Toledo.
O advogado José Roberto Batochio, que representa Mantovani, disse que ele usou o dinheiro da empresa para comprar a casa de uma aposentada que tem Toledo como procurador e herdeiro.
Mas essa transação não foi registrada em cartório, embora tenha se passado quase um ano desde a data em que o negócio teria ocorrido. A aposentada continua morando no imóvel até hoje.
O dono do Marfrig, Marcos Molina, é sócio de Mantovani numa usina de biodiesel em Mato Grosso, a Biocamp.
Eles dizem que o depósito de R$ 1 milhão era um adiantamento a Mantovani por conta de uma operação em que o dono da Marfrig ampliaria sua participação no capital da usina, mas essa transação não aparece nos registros da empresa na Junta Comercial.
"Negócios deles, pessoais, geraram uma situação econômica em que o senhor Mantovani teria, através desses pagamentos, saldado esse negócio dele [a compra da casa]", disse Batochio. "Isso nada tem a ver com o Marfrig."
Nomeado vice-presidente do Banco do Brasil em abril de 2009, Allan Toledo cuidava do relacionamento da instituição com grandes empresas, como o Marfrig.
De maio a setembro de 2009, o grupo obteve empréstimos do BB no valor total de R$ 750 milhões, de acordo com os comunicados do Marfrig para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
O grupo afirmou que pode ter realizado outras operações com o BB nos últimos anos sem ter comunicado ao mercado, mas não deu detalhes.
Um irmão de Toledo, Alex Toledo, é diretor de marketing do Marfrig. O executivo foi demitido pelo BB em dezembro, após o governo identificá-lo como participante de um movimento para derrubar o presidente do banco, Aldemir Bedine.
Segundo o grupo de Bendine, a articulação seria comandada por Ricardo Flores, que preside a Previ, o bilionário fundo de pensão dos funcionários do BB. Os dois dirigentes romperam relações devido à disputa por poder.