Depois de uma boa trajetória com o grupo de rap Pentágono, Rael da Rima enfrenta agora o primeiro
solo. O recém-lançado MP3 – Música Popular do 3º Mundo é uma mistura nada coesa. Assim como
da região. Mas não é necessário coesão quando a essência e característica maior é justamente
diversidade.
Rael da Rima representa bem isso assinando os arranjos e transbordando sua influência da música negra, seja ela brasileira, jamaicana e etc. As composições do MC chamam a atenção pela característica melódica, que gruda sem que isso seja pejorativo, pelo contrário. Não é só reggae, não é só rap. É bom. No terreno perigoso dessa mistura, Rael faz com classe e como poucos conseguiram no Brasil.
O cara é quase um toaster jamaicano falando em português. A banda por trás e a característica orgânica do som são o ponto forte desse projeto, reforçando os temperos de samba, funk e reggae de raiz, sem perder a influência do rap com DJ Will, filho de Kl Jay, assinando os riscos. MP3 é um daqueles discos que dão a maior vontade de ver o show ao vivo pela energia e suingue envolvidos. “Trabalhador” e “Mó Fya” são grandes sons. O reggae “Fui” conta ainda com participações de integrantes do coletivo de hip-hop Nomadic Massive e do grupo de reggae Inword, gravado numa de suas viagens ao Canadá. Não deixem os gringos descobri-lo antes da gente.
Rael da Rima está há 10 anos no Rap. Mas, sua trajetória musical tem início bem antes disso. Com pai multi-instrumentista, mãe cantora (ambos, autodidatas) e influenciado por nomes como
Djavan,
Tim Maia,
Caetano Veloso,
Jorge Benjor,
Bob Marley e Racionais MCs, ele aos poucos foi se embrenhando nesse caminho. Aos 11, teve o primeiro contato com sua vocação, fazendo cover dos Racionais. Aos 14, tocando maracatu com os surdos e tambores da fanfarra da escola onde cursou o ensino fundamental. Aos 16, começou a compor. Aos 22, motivado pelo primo a tocar violão, suas composições ganharam um tom ainda mais autoral - nascidas da inspiração melódica antes mesmo da rima (o apelido que virou alcunha está lado-a-lado com a melodia, como ele mesmo costuma afirmar). Um bom exemplo da marca autoral de Rael está já naquela que foi sua primeira composição melódica, “Vejo depois” (2005), presente no documentário que integra o projeto “Global Lives”, do norte-americano David
Evan Harris. Rael é uma das dez pessoas que, vivendo em diferentes lugares do mundo em circunstâncias de adversidades, tem a rotina “filmada” durante 24 horas pelo projeto. Natural do bairro de Iporanga (zona Sul de São Paulo), Rael da Rima tem no currículo dois discos lançados com o Pentagono, participações em trabalhos de alguns dos expoentes mais proeminentes do rap nacional (Sombra, Kamau, Emicida e Slim Rimografia, Kamau, entre outros) e, em especial, o convite para integrar o seleto hall de artistas que estiveram no programa “Som Brasil – Homenagem a Vinícius de Moraes”, exibido por uma emissora de TV, em 2007, fazendo releituras de clássicos do “Poetinha”. Rael cantou e rimou ao lado dos cantores/MCs
Terra Preta e Criolo Doido, acompanhados pelo violão de Marcel
Baden Powell, filho do ilustre
Baden Powell – parceiro de Vinícius no lendário álbum “Os Afro-Sambas”, de 1966. O trio foi o único dos artistas convidados a criar novos versos às composições do autor de “Canto de Ossanha” (letra de Vinicius e
Toquinho; composição de
Baden Powell), uma das três músicas interpretadas por Rael/Criolo/Terra Preta no especial ao lado de “Samba da bênção” e “O morro não tem vez”. Rael também participou do seriado global “Antonia”, dirigido por Tata Amaral e que foi ao ar em 2007. No mês de julho de 2009, o artista lança seu primeiro single, “Trabalhador”, uma mistura de reggae e rap. Em 2010, seu primeiro álbum ganha as ruas: MP3 – Música Popular do 3º Mundo. Em uma das primeiras entrevistas sobre o lançamento do disco, um dos blogs de cultura urbana mais conceituado, o Per Raps, definiu Rael em uma frase: “Se no meio do rap é praticamente impossível ser uma unanimidade, Rael da Rima é provavelmente o artista que chega mais perto de alcançar a façanha”.