SEEB Santos e Região - Sindicato dos Bancários de Santos e Região
EM DEFESA DO DESARQUIVAMENTO E DA FEDERALIZAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES SOBRE OS ?CRIMES DE MAIO DE 2006? COMETIDOS POR AGENTES MILITARES DO ESTADO DE SÃO PAULO E GRUPOS DE EXTERMÍNIO PARAMILITARES LIGADOS A ELES
ATÉ QUANDO O ESTADO CONTINUARÁ TORTURANDO E MATANDO?
ATÉ QUANDO A POPULAÇÃO VAI TOLERAR EM SILÊNCIO?
à População Brasileira e Internacional de forma ampla, geral e irrestrita
à Presidência da República do Brasil, na pessoa do Presidente Sr. Luís
Inácio Lula da Silva
à Casa Civil, na pessoa da Ministra Sra. Dilma Roussef
ao Ministério da Justiça, na pessoa do Ministro Sr. Tarso Genro
e à Secretaria Especial de Direitos Humanos, na pessoa do Secretário Sr.
Paulo Vanucchi
?De aqui, de dentro da guerra, qualquer tropeço é motivo. A morte te olha
nos olhos. Te chama, te atrai, te cobiça. De aqui, de dentro da guerra, não
tem DIU nem camisinha que te proteja da estúpida reprodução da fome, da
miséria, da ínfima estrutura que abafa o cantar das favelas: antigas
senzalas modernas. Cemitério Geral das pessoas.?
Poeta Dinha, Parque Bristol, Periferia-SP
Se levarmos a sério tudo aquilo que o conceito de ?democracia? promete, o
Brasil obviamente nunca concluiu sua ?transição democrática?. Muito pelo
contrário. Quem vive nas favelas e comunidades periféricas do país, sabe na
pele o quê isso significa. Vivemos num país cada vez mais dividido por um
abismo entre duas classes de pessoas: aquelas que são consideradas ?seres
humanos portadores de direitos? porque têm mais dinheiro e, via de regra,
tem a pele mais clara; e aquelas ?pessoas que não são consideradas sequer
seres humanos?, tratadas como bicho por terem a cor da pele quase sempre
mais escura, não terem dinheiro e. quando muito, terem um emprego precário,
podendo desse modo serem descartadas e massacradas pelo sistema que, sob sua
lógica, as pode substituir com facilidade. A essa imensa maioria das
pessoas, até para que elas permaneçam sendo exploradas ao máximo, é aplicado
o Terror.
Um Terror cotidiano que tem na falta de condições mínimas para uma vida
digna, por um lado e, por outro, no poder repressivo da polícia e de agentes
paramilitares ligados ao estado, duas faces da mesma moeda da opressão. Uma
opressão que se concretiza das mais diversas formas, concentradas ou
difusas, em especial contra a juventude pobre e negra do país. Práticas que,
cada vez mais, têm culminado em torturas cotidianas, encarceramento em
massa, e seguidas execuções sumárias. Uma pesquisa recente divulgada pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e Observatório de Favelas,
no dia 21/07/2009, afirma que, se as estatísticas permanecerem como estão,
mais de 33,5 mil jovens terão sido executados no Brasil durante o curto
período de 2006 a 2012. Os estudos ainda apontam que os jovens negros
apresentam risco quase três vezes maior de serem executados em comparação
com os brancos.
Os Crimes de Maio de 2006
Pois mal: foi neste contexto que, durante o mês de maio de 2006, no Estado
de São Paulo, policiais e grupos paramilitares de extermínio ligados à
Polícia Militar promoveram um dos mais vergonhosos escândalos da história
brasileira. Em uma cínica e mentirosa ?onda de resposta? ao que se chamou na
grande imprensa de "ataques do PCC", foram assassinadas no mínimo 493
pessoas - que hoje constam entre mortas e desaparecidas. A imensa maioria
delas - mais de 400 jovens negros, afro-indígena-descendentes e pobres ?
executados sumariamente. Sem dúvida, o maior Massacre da história brasileira
recente.
São centenas de mães, milhares de familiares e amig@s que tiveram, no
intervalo de pouco mais que uma semana, seus entes queridos assassinados
covardemente, e até hoje seguem sem qualquer satisfação por parte do Estado
brasileiro. Os casos permanecem arquivados sem investigação correta para
busca da Verdade dos fatos; sem Julgamentos dos verdadeiros culpados (os
agentes do estado e seus outros braços armados); sem qualquer Proteção,
Indenização ou Reparação por parte das instituições que tiraram os seus
jovens. Um estado que ainda insiste em sequestrar também o sentimento de
Justiça dessas famílias.
Desde então, por meio de muita luta - sobretudo das Mães e Familiares de
Vítimas à frente dela - um primeiro e importante desafio já vem sendo
superado: a censura nos grandes meios de comunicação, e a barreira do
desconhecimento. Hoje, passados três anos e meio desde os terríveis Crimes,
milhões de pessoas ao redor de todo o Mundo já sabem o quê realmente
aconteceu naqueles trágicos dias. Entretanto, muitas ainda precisam saber,
principalmente aqui no Brasil, onde o massacre aconteceu, e onde a marcha
fúnebre prossegue com o desconhecimento ou conivência de muitos.
No dia 15 de outubro de 2009, a Anistia Internacional enviou uma nota a
todas as instâncias do Estado brasileiro, na qual repudia o absurdo
arquivamento da imensa maioria dos casos que se multiplicaram nas periferias
de São Paulo a partir de maio de 2006, ressaltando estar atenta em relação à
impunidade que vigora até o momento, e atenta também ao futuro das
investigações e providências. Há poucos dias, no início de dezembro,
novamente em visita ao Brasil, representantes da AI voltaram a destacar e se
solidarizar com toda a luta das Mães e Familiares que, segundo a entidade
internacional, sofrem uma "dupla-violência?: além de terem perdido seus
filhos de maneira brutal por parte de agentes do Estado, ainda têm renegado
o seu legítimo direito à Verdade e à Justiça, sendo obrigadas muitas vezes a
conduzir elas mesmas as investigações - sem nenhum suporte, reparação, e
sequer a garantia da própria Vida. A Anistia Internacional também volta a
exigir o desarquivamento dos casos.
Desarquivamento e Federalização
Agora é preciso dar novos passos, e superar novas barreiras simbólicas,
políticas e jurídicas. Esta petição, lançada pelas ?Mães de Maio? às
vésperas do Dia Internacional dos Direitos Humanos de 2009, tem como
objetivo geral exigir o mínimo que as pessoas com alguma decência e
dignidade podem fazer diante de brutalidades como esta: manifestar seu
Repúdio e reivindicar Justiça! Mas tem um objetivo específico muito preciso:
exigir do Poder Executivo Nacional que este faça cumprir a Constituição
Brasileira, a qual vem sendo constantemente vilipendiada pelos Poderes
Judiciário e Executivo do Estado de São Paulo ? de alguma maneira implicados
politicamente com os referidos Crimes de Maio de 2006, sobre os quais
cobramos Justiça.
Sabemos que uma sociedade realmente democrática não se constrói sem encarar
todo o seu Passado, sem assimilar toda sua Verdade Histórica. Sabemos que
isso não é fácil, e que no Brasil há uma blindagem pesada feita pelas elites
civis e militares para que isto não aconteça. Entretanto, diante de todo
este poder opressivo imposto pelo dinheiro, pelas mídias e pelas armas, nós
que abaixo-assinamos esta petição não nos intimidamos.
Estamos absolutamente convictos de que não construiremos uma sociedade
Justa, Igualitária e, sobretudo, Livre, sem fazer todas as devidas
reparações históricas. Mais que isso: seria impossível dormir com a
consciência tranqüila se nos calássemos, nos omitíssemos ou, pior, se
colaborássemos para a manutenção desta situação. Tampouco atingiremos os
nossos ideais coletivos, nacionais e internacionalistas, sem exigirmos a
punição dos responsáveis pela sucessão de crimes históricos cometido pelas
elites e por seus agentes incrustados no Estado brasileiro, de forma direta
ou indireta. Principalmente aqueles altos responsáveis pela sucessão de
Massacres que marca a nossa História. Sem o julgamento e a devida punição de
todos os responsáveis por estes crimes inomináveis, a sociedade brasileira
na prática continuará dando aval para que eles sigam ocorrendo, sobretudo
contra a juventude pobre e negra do país.
A luta pelo Desarquivamento e pela Federalização das investigações sobre os
Crimes de Maio de 2006 se insere nesta tradição de resistência de tod@s @s
oprimid@s que lutaram e lutam pela Memória, pela Verdade e por Justiça, em
relação a todos os massacres históricos. Não apenas as vítimas e familiares
dos Crimes de Maio de 2006 agradecem o apoio a este manifesto, mas todas as
vítimas diretas ou indiretas do Massacre de Canabrava (2009), do Complexo do
Alemão (2007), da Baixada Fluminense (2005), da Praça da Sé e de Felisburgo
(2004), de Eldorado dos Carajás (1996), da Candelária e de Vigário Geral
(1993), do Carandiru (1992), de Acari (1990), da Ditadura Civil-Militar
(1964-1989), e de todos os massacres históricos contra trabalhadoras e
trabalhadores pobres, negros e indígenas ocorridos ao longo da história
brasileira.
NOSSA LUTA POR JUSTIÇA HISTÓRICA É UMA SÓ!
E, neste momento, neste manifesto: a Luta é por Justiça frente aos Crimes de
Maio de 2006!
EM DEFESA DO DESARQUIVAMENTO E DA FEDERALIZAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES SOBRE OS
?CRIMES DE MAIO DE 2006? COMETIDOS POR AGENTES MILITARES DO ESTADO DE SÃO
PAULO E GRUPOS DE EXTERMÍNIO PARAMILITARES LIGADOS A ELES.
Você pode contar sempre, com o Sindicato, para isso estamos deixando, mais um canal de comunicação, com você. Envie informações, denúncias, ou algo que julgar necessário, para a Luta dos Bancários. Ou ligue para: (13) 3202 1670
Atenção: Todas as denúncias feitas ao sindicato são mantidas em sigilo. Dos campos abaixo o único que é obrigatório é o email para que possamos entrar em contato com você. Caso, não queira colocar o seu email pessoal, você pode colocar um email fictício.
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