Entrevista: Big fala sobre os 80 anos do Sindicato

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Entrevista: Big fala sobre os 80 anos do Sindicato

Entrevista concedida para a Intersindical com Ricardo Saraiva Big – Presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região
O Sindicato dos Bancários de Santos e Região faz 80 anos de luta em 11 de janeiro de 2013, mas antes de ser fundado já produzia história no Brasil como esta: dia 18 de abril de 1932, corre a notícia inacreditável (na época) de que os bancários do Banco do Estado de São Paulo, sucursal/Santos, entraram em greve, seguidos pela matriz na capital. Colunistas de vários jornais ficam espantados com o movimento, pois anteriormente a greve só fora adotada entre os operários, que quase sempre obtinham conquistas.

O bancário santista e fundador do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, REGINALDO DE CARVALHO, foi o líder da primeira greve da categoria. Carvalho foi preso em 1935 em decorrência da militância sindical e da incriminação de ser comunista. 

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INTERSINDICAL - Há quanto tempo está à frente dos Bancários de Santos e Região? 

Big - Bom antes é preciso resgatar a história como ela é. Eu presido o sindicato desde 2006. Contudo a nossa luta em administrar a entidade tem início o fim da década de 90. Na época, o Sindicato estava com suas finanças arrasadas, a dívida era enorme. Com uma política séria, responsável, de valorização da categoria e seu patrimônio, foram realizados importantes trabalhos de saneamento econômico e empreendedor, na minha atual gestão como presidente e na do companheiro Pedro de Castro Junior (1998 a 2005), quando eu respondia pela Secretaria Geral. Eu e o Pedrinho somos ex-integrantes do Movimento de Oposição Bancária (MOB), assim como outros ex-diretores. A luta do nosso grupo resultou no atual estágio de excelência da diretoria em defesa dos interesses dos bancários (as) e permitiu a categoria manter e ampliar seu patrimônio, atualmente, invejável. Os integrantes do MOB entraram na diretoria em 1995, mas militam e participam do processo de luta da categoria desde 1983.


INTERSINDICAL - Quantos filiados ultimamente? 

Big - Hoje o nosso Sindicato têm 69% da base filiada entre bancários (as) da ativa e aposentados (as). São 3.876 filiados entre ativa e aposentados, para uma base de 5.586 bancários (as) entre ativos (as) e aposentados (as). O que demonstra credibilidade em nossa luta.


INTERSINDICAL - Fale um pouco das conquistas que o sindicato e a categoria como um todo teve nestes 80 anos.

Big - A luta sempre vale a pena. Nada cai do céu. Tudo foi conquistado com muita luta, suor, demissões, prisões e até mortes de companheiros. Veja a lista:

1933 – Fundação do Sindicato dos Bancários de Santos e muitos outros por todo o País como em Porto Alegre, Rio de Janeiro e a Associação dos Bancários de São Paulo passa a ser Sindicato dos Bancários de São Paulo; Conquista da jornada de 6 horas;

1934 – 1ª Greve Nacional com duração de três dias, que conquistou aposentadoria aos 30 anos de serviço e 50 anos de idade, estabilidade após 2 anos de serviços (no setor público e privado) e criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários – IAPB (tudo desmantelado pela ditadura militar de 1964);

1946 – 2ª Greve nacional com duração de 19 dias, sindicatos sofrem intervenções;

1951 – A maior greve estadual realizada somente no Estado de São Paulo. Foram 69 dias de muita luta da categoria sofrendo repressão e prisões porque desafiavam a Lei de Greve que impedia o setor de bancário de ter esse direito;

1961 – Greve da Dignidade realizada pelos bancários do setor privado que conquistam o 13º salário;

1962 – Sábado livre;

1964 – período de massacre na história dos trabalhadores e da Nação, que sofrem com o Golpe Militar e são alijados dos direitos a liberdade de expressão, greve ou qualquer tipo de mobilização, direitos trabalhistas conquistados em outras décadas como a estabilidade, IAPB e outros. Além de serem perseguidos, torturados e mortos pelo regime de exceção;

1983 – Criação da Central Única dos Trabalhadores;

1989 – Conquista do vale refeição;

1992 – Criação da Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT), conquista do Acordo Único dos Bancários para todo o País reivindicado desde 1951; Vale refeição unificado tanto para 6 como 8horas e concessão durante o ano todo, inclusive nas férias; auxílio creche até 83 meses;

1984 – Cesta Básica;

1995 – Participação nos lucros;

2004 – A maior greve nacional realizada durante 30 dias, em todas as capitais e principais cidades do País, que unificou bancários do setor público e privado nas reivindicações por um reajuste igualitário para todos conseguindo repor totalmente a inflação, após muita repressão das polícias militares estaduais, pressão da justiça para pôr fim à greve e a omissão do governo federal frente às reivindicações dos trabalhadores.

2005 - Formação da Intersindical;

2007 - 13ª Cesta Alimentação;

2008 - Aumento na distribuição da PLR;

2009 - Ampliação da licença maternidade de quatro para seis meses


INTERSINDICAL - Quando tomaram a decisão de filiar-se a Intersindical? Por quê?

Big - Desde 2005, o Sindicato dos Bancários de Santos e Região ajuda na formação da Intersindical e tem se empenhado nesta construção, orientando sua atuação em defesa dos direitos dos trabalhadores, por melhores condições de trabalho, contra o assédio moral e a exploração. Porque a luta da categoria bancária está inserida em uma luta maior na perspectiva de superação do capitalismo. Com a crise do sistema capitalista internacional, os trabalhadores (as) vêm sofrendo constantes ataques. Privatizações, terceirização, desemprego, redução dos salários e direitos é a receita dos patrões, com apoio do governo e da mídia, para fazer com que todos paguem pelas consequências desta crise gerada pela irresponsabilidade e ganância do Capital. 

Neste momento em que se faz mais necessário fortalecer a resistência, o que vemos são grandes centrais sindicais, que serviam de ferramentas de lutas construídas em décadas passadas se adaptarem à ordem e perderem a autonomia e a independência frente aos governos, aos partidos políticos e aos patrões. O que é pior, apoiando governos e patrões em detrimento dos direitos dos trabalhadores. 

Necessitamos da construção de uma nova central combativa, autônoma, classista com participação direta dos trabalhadores, sem interferência de partidos políticos, dos governos e dos patrões. A Intersindical está sendo organizada para dar respostas a estas demandas.


INTERSINDICAL - Quais as maiores dificuldades enfrentadas em 2012?

Big - As maiores dificuldades enfrentadas pela categoria sem dúvida foram as demissões em massa que os bancos Itaú e Santander praticaram contra os trabalhadores bancários. Contra isso, paralisamos e realizamos protestos nas portas das agências. Além disso, utilizamos nossos departamentos jurídico (para barrar as demissões com liminares) e o de comunicação (para denunciá-las ao público em geral). Reativamos nossa campanha “Demitiu Parou”!


INTERSINDICAL - O que mudou na luta sindical da categoria bancária nestes últimos 10 anos?

Big - Houve fusões de bancos com demissões em massa. Eram 45 bancos em nossa base, atualmente só existem dois bancos internacionais, dois privados e dois públicos, além de mais cinco com apenas uma agência. Isto gerou demissão e terceirização da categoria. Para esclarecer, éramos cerca de 8 mil bancários na Baixada Santista e hoje somos 4 mil, porém o número de trabalhadores nas instituições financeiras não diminuiu assim, porque muitos foram terceirizados e obrigados a trabalharem com uma jornada mais extensa, receber salários e direitos menores para não ficarem desempregados. Veja o tamanho da crueldade dos banqueiros com os trabalhadores.

Nos últimos 10 anos as nossas principais lutas podemos resumir em três eixos: combater o assédio no ambiente de trabalho, por conta da imposição de metas; Lutar pelo emprego, por conta das fusões de bancos; e lutar por melhores condições de trabalho. 


INTERSINDICAL - Quais os planos para este novo ano que se apresenta?

Big - Temos muita luta a realizar para defender os direitos dos trabalhadores. Nesse momento é fundamental a união de forças para derrotar o anteprojeto do Acordo Coletivo Especial (ACE) que retira direitos da classe trabalhadora. Usando como desculpa a ”modernização das relações de trabalho no Brasil”, um anteprojeto de lei, que altera a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), foi elaborado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, trata-se do ACE. O ACE representa uma possibilidade real de retirada de direitos e ainda por cima dentro da lei, se a proposta for aprovada no Congresso Nacional e sancionado pela Presidente Dilma.

Além disso, temos que enfrentar com muita garra as demissões em massa para revertê-las, organizar os trabalhadores por local de trabalho, por  mais contratações, fim do assédio, da exploração, lutar pela isonomia salarial e de direitos, por planos de cargos e salários para todos, pela reposição das perdas e recomposição dos salários. Vamos também combater a terceirização. Existe um Projeto do Deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) generalizando a terceirização, ampliando os ataques aos direitos trabalhistas. Se o projeto passar, o bancário pode vir a ser terceirizado também. 

Boa parte dos terceirizados recebem salários inferiores aos demais trabalhadores e a enorme maioria têm direitos e benefícios bastante reduzidos, comparados aos trabalhadores formais. Em geral, os trabalhadores terceirizados realizam jornadas de trabalho mais longas e estão expostos a acidentes e adoecimentos no trabalho. 

O movimento sindical não pode vacilar diante da generalização da terceirização e precarização do trabalho. Infelizmente, algumas centrais como a Força Sindical, apoia o nefasto projeto de Sandro Mabel.

Temos que lutar também pelo fim do Fator Previdenciário. Desde o governo Fernando Henrique, do PSDB, ficou mais difícil se aposentar. E quando consegue, o chamado fator previdenciário morde uma parte do benefício. Hoje, para receber 100% do benefício, um trabalhador precisa ter, no mínimo, 63 anos e meio de idade, além de 35 de contribuição. E a idade exigida aumenta com a elevação da expectativa média de vida. 

Há anos o movimento sindical se mobiliza para acabar com o fator previdenciário. Por pressão dos trabalhadores, o congresso aprovou projeto acabando com a medida criada por FHC. Mas o ex-presidente Lula vetou o projeto, prejudicando milhões de trabalhadores. Mas a luta continua!


INTERSINDICAL - Para você, qual a importância em atuar no sindicato bancários e na luta da sindical de maneira geral?

Big - Então vamos explicar, o Capitalismo é um sistema que produz corrupção, violência, extermínio de seres humanos, tudo isso passa pela criminalização dos movimentos sociais com ajuda do Estado financiado pelos grandes grupos empresariais. Enquanto isso, privilegia as grandes corporações que hoje dominam o mundo. Acreditamos que somente o socialismo mudará esta realidade!

Apesar de tentarem ludibriar os trabalhadores de que são “importantes colaboradores” e, portanto, não são da classe trabalhadora (que tem direitos legais contidos na CLT a serem pagos), nós entendemos que existe sim uma luta de classes que pode retirar todas as conquistas e direitos dos trabalhadores com rápidos e eficazes ataques como o Acordo Coletivo Especial, a reforma previdenciária, o mensalão, fator previdenciário, a terceirização. Por isso, organizar os trabalhadores enquanto classe é o caminho para fazer a mudança necessária à sociedade. A maioria somente deixará de ser oprimida, massacrada, explorada e exterminada quando a classe trabalhadora assumir o poder dos meios de produção e político verdadeiramente. 

Fonte INTERSINDICAL
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