Veneno na comida

Idec divulga novo estudo sobre presença de agrotóxicos em ultraprocessados

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Idec divulga novo estudo sobre presença de agrotóxicos em ultraprocessadosBrasil de Fato/Divulgação

Além de bebidas, biscoitos e bolachas, Instituto aponta resíduos de defensivos químicos em derivados de leite e carne. Os agrotóxicos estão presentes desde a aplicação até a elaboração e a parte final desses produtos

Corantes, conservantes e grandes quantidades de açúcar, sal e gordura. A composição dos alimentos ultraprocessados faz deles um perigo para a saúde. E a lista de ingredientes nocivos não para por aí.

 

Um estudo inédito do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), mostrou que boa parte dos ultraprocessados consumidos pelos brasileiros contém agrotóxicos.


 
A pesquisa Tem veneno nesse pacote foi lançada em duas partes: a mais recente, divulgada em 2022, apontou para a presença de resíduos de agrotóxicos em 14 de 24 derivados de carne e leite.  Já em 2021, o estudo analisou bebidas, biscoitos e bolachas. A descoberta foi que 59% dos produtos analisados apresentaram resíduos de pelo menos um tipo de agrotóxico. 

 

"Os agrotóxicos estão presentes e se acumulam desde o processo de aplicação até a elaboração e a parte final desses produtos", alerta Rafael Arantes, coordenador do programa de Consumo Sustentável do Idec.

 

"Então, de saída, esse é o primeiro destaque que fazemos, de trazer essa percepção, de desmistificar aquela falsa percepção de que os produtos ultraprocessados eliminam todos os resíduos químicos ou de que os agrotóxicos não se acumulam ao longo da cadeia alimentar", complementa. 

 

Rafael ressalta ainda que da cadeia alimentar, os venenos chegam aos produtos nas prateleiras.

 

"E com o uso intensivo de agrotóxicos na aplicação, os agrotóxicos continuam nos sistemas alimentares chegando inclusive nos produtos que estão sendo consumidos nas prateleiras e levados para a casa das pessoas. Outro dado preocupante mostrado no estudo do Idec é que alguns alimentos apresentaram o chamado 'coquetel de venenos', ou seja, carregavam resíduos de mais de um agrotóxico", ressalta Arantes.

 

Falta de regulação

Para Rafael, a presença de agrotóxicos também em alimentos processados e ultraprocessados é possível no país pela falta de limites regulatórios.  

 

"Encontramos em um nuggets cinco agrotóxicos diferentes. No primeiro volume da pesquisa, encontramos 8 resíduos de agrotóxicos diferentes em uma única bisnaguinha. Então estamos falando de produtos ultraprocessados que são consumidos muitas vezes por crianças, que estão sendo expostas a esse coquetel. Ou seja, agrotóxicos que tem seus limites definidos individualmente, e em situações hipotéticas de aplicação no campo. Esse produtos estão sendo consumido pelas pessoas em um mix de agrotóxicos", denuncia Arantes. 

 

Entre os agrotóxicos encontrados nos alimentos da pesquisa, está o glifosato. Proibido em diversos países, esse agrotóxico é considerado pelo Organização das Nações Unidas (ONU) como um provável cancerígeno. Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da ONU divulgou estudo alertando sobre o herbicida. 

 

Inflação dos alimentos

O cenário pode ser ainda mais desafiador quando se considera a inflação dos alimentos e a dificuldade de muitas famílias no acesso à comida de verdade. 

 

O preço dos alimentos e bebidas já subiu 9,83% nos primeiros sete meses de 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual é mais do que o dobro da inflação do período medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA): 4,77%.

 

A atriz Ariana Costa Viana mora em São Paulo e alega mais dificuldades para comprar alimentos naturais devido ao valor nos últimos anos.

 

"A minha família é composta por minhas duas filhas, eu, meu esposo, a minha mãe e o meu pai. Somos seis pessoas. Hoje nos alimentamos com poucas frutas, verduras, poucos legumes. Até porque subiu muito o preço dos alimentos e optamos por produtos mais industrializados", afirma Viana. 

 

Ariana percebeu mudanças ao ter que trocar a alimentação. "Mudanças no nosso próprio corpo. Hoje a minha pele já não está muito boa", conta. De acordo com ela, toda a sua família vem sofrendo as consequências. 

 

"As minhas filhas apresentam mais cansaço do que o natural, do que quando elas comiam a alimentação mais natural. Com mais frutas e verduras, elas tinham mais energia, mais pique, mais ânimo, a memória era muito melhor. Hoje elas estão meios dispersas, eu percebi isso. Até passei em consulta e o médico falou que foi por conta dessa mudança de hábito alimentar", lamenta. 

 

Propostas de mudanças

O Guia Alimentar para a População Brasileira aponta que o consumo de processados e ultraprocessados está associado a doenças crônicas não transmissíveis, obesidade e problemas cardiovasculares. Nesse sentido, o estudo do Idec é mais uma evidência de que o modelo agroindustrial do país precisa mudar.


"Primeiro que seja produzido comida, arroz com feijão, fruta, hortaliça, para voltar a chegar comida na mesa da população, é uma questão. A fome tem uma dimensão política socioeconômica e de omissões no nível da gestão pública e o mesmo está relacionado ao modelo de produção", pontua o coordenador do Idec. Ele cobra uma priorização nas experiências de produção sem agrotóxicos. 



"É possível a produção sem agrotóxicos e existe uma rede diversa da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), por exemplo, e várias outras iniciativas. Temos mapeado no nosso site as feiras orgânicas do Idec, por exemplo, para quem não conhece. Hoje mais de mil iniciativas mapeadas em todo o Brasil para que as pessoas possam acessar alimentos produzidos sem utilização de agrotóxicos", acrescenta Arantes.

Escrito por: Daniel Lamir/edição: Douglas Matos
Fonte Brasil de Fato
Postado por Gustavo Mesquita em Notícias

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