O banco espanhol Santander disse na quinta-feira (27) que planeja exceder as exigências de capital dos líderes da região em um ponto percentual até junho de 2012, mas não detalhou como o fará. Pela regra de Basileia 3, o capital de nível 1 está em 8,12%, sendo que precisará alcançar 9%. O banco quer atingir isso com geração interna de capital.
Teste de estresse feito pelo J.P. Morgan, mais rigoroso que o oficial, concluiu que a matriz do Santander terá um déficit de capital de ? 3 bilhões em um cenário que inclui uma perda de 33% nos empréstimos, um corte de 10% nos títulos da dívida espanhola e o impacto de Basileia 3. O relatório chama-se "Santander e BBVA: não apenas espanhóis, mas sofrendo por isso".
Para os autores, o principal risco para o banco está na Espanha, principalmente na carteira imobiliária, que tem sido responsável pela maior parte do problema espanhol desde 2007 e que, no caso do Santander, soma ? 27 bilhões.
De um total de ? 230 bilhões em empréstimos na Espanha, ? 30 bilhões são considerados "problemáticos", o que inclui créditos provisionados, ativos imobiliários recomprados, empréstimos de segunda linha e perdas contábeis. Isso é pouco mais de 10% da carteira total, mas deve aumentar mais em 2013, quando os empréstimos provisionados devem atingir seu pico. O cenário também considera 100% de default para os créditos imobiliários provisionados.
Para Jaime Becerril, Kian Abouhossein e Axel Finsterbusch, autores do relatório, a falta de reconhecimento das perdas futuras é o principal obstáculo para o banco. Os analistas afirmam que a limpeza do balanço é "necessária e desejável", levando as provisões a níveis mais "realistas".
No Brasil, o receio entre investidores é que a seriedade da situação na Espanha respingue na subsidiária. O Santander afirma ter um modelo de subsidiárias autônomas. A preocupação de analistas é que o banco coloque o pé no freio no Brasil, mantendo o nível de capital elevado na subsidiária, o que acabaria ajudando a matriz.
Marcial Portela, presidente do Santander Brasil, nega esse movimento. "Não temos nenhuma restrição para crescer no país", disse na quinta-feira durante apresentação dos resultados do terceiro trimestre, quando a carteira de crédito do banco cresceu 8%, o ritmo mais acelerado desde 2008.
Ceres Prado, analista de bancos da agência de risco Moody's, acrescenta outros dois motivos para que a carteira do banco esteja crescendo abaixo de seu potencial. O banco demorou muito para realizar a sinergia com o ABN Amro e perdeu o passo na concessão de crédito. "O banco trouxe inúmeros executivos da Espanha que ainda não conhecem tão bem o mercado e estão contaminados pelo clima de crise na Europa".
Um executivo que já saiu do banco relata, por exemplo, que três vezes por semana executivos do Brasil precisam levar ao comitê de crédito na Espanha as operações em andamento para receber aprovação. "Por causa da crise, os espanhóis estão bem mais cautelosos. Com isso, o banco pode perder clientes para a concorrência", diz.
Responsável por 25% do lucro do grupo, o Brasil tem dado uma contribuição importante para a matriz. O banco, controlado pelo grupo espanhol, já distribui 50% do lucro aos acionista (em IFRS), mais do que os 35% ou 40% que os brasileiros costumam pagar. A recente venda de 51% das operações de seguro no Brasil e na Argentina para a Zurich também renderá bons dividendos à matriz. A operação foi fechada por R$ 2,7 bilhões.