Sem crise
Mesmo com recessão, bancos lucraram R$ 59,6 bilhões em 2016
Em 2016, o setor financeiro no Brasil manteve seu lucro em patamar elevado e se tornou ainda mais concentrado em poucos bancos. Esse diagnóstico foi apresentado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na 11ª edição do estudo Desempenho dos Bancos.
O estudo do Dieese é um diagnóstico preciso do setor financeiro no Brasil. Aponta que o lucro dos bancos se mantém elevado, mesmo em cenário econômico desfavorável. Ainda assim, o setor fecha postos de trabalho, colaborando para o aumento da já elevada taxa de desemprego. A luta do movimento sindical é na defesa dos empregos dos bancários e seus direitos. Os bancos, como concessões públicas, devem ter responsabilidade social. Isso significa não demitir trabalhadores e reduzir o custo do crédito para aquecer a economia.
No ano passado, o lucro líquido dos cinco maiores bancos somou R$ 59,6 bilhões. Mesmo que muito expressivo, o resultado do setor representa queda de 12,5% em relação a 2015. Entretanto, de acordo com análise do Dieese, a redução pode ser explicada pelo aumento das provisões para devedores duvidosos (PDD), em função do aumento da inadimplência no segmento empresarial, e pelo fato de que as instituições não utilizaram créditos tributários – que consistem na devolução de impostos – como haviam feito no ano anterior.
Resultado operacional
Já o resultado operacional dos cinco maiores bancos cresceu 204,8% em relação ao ano anterior, mais que dobrando em todas as instituições. O Santander, por exemplo, saiu de um prejuízo operacional de R$ 377 milhões em 2015 para lucro operacional de R$ 13,8 bilhões no ano passado. A Caixa obteve resultado operacional 271,7% superior ao de 2015, passando de R$ 1,1 bilhão para R$ 4 bilhões.
Concentração
Com a aquisição do HSBC pelo Bradesco, o setor financeiro tornou-se ainda mais concentrado durante o ano passado. Os cinco maiores bancos agora detêm 87% das operações de crédito do país, contra 85% no final de 2015.
Empregos
Mesmo com o resultado expressivo em 2016, os bancos seguem cortando postos de trabalho. Em 2016, o total de empregados nas cinco maiores instituições passou de 433.015 para 432.518, com extinção de 497 postos.
“Esse saldo negativo só não foi maior porque considera a incorporação dos funcionários do HSBC pelo banco Bradesco (pouco mais de 20 mil). Sem considerar esse contingente, o Bradesco, entre setembro de 2015 e setembro de 2016, eliminou 4.790 postos de trabalho”, destaca o estudo do Dieese.
O levantamento enfatiza ainda que a expressiva redução no número de funcionários no BB (-7,8%), com 8.569 postos de trabalho extintos, é resultado do Plano Especial de Aposentadoria Incentivada (Peai), no âmbito da reestruturação em curso no banco, que teve 9.409 adesões até 31 de dezembro de 2016.
Já no caso da Caixa, que também passa por uma reestruturação, a redução de 2,5% no número de empregados reverteu tendência de criação de novas vagas verificada desde 2004. Este ano, o banco público anunciou o PDVE (Programa de Desligamento Voluntário Extraordinário), cujo objetivo é fechar cerca mais 10 mil postos de trabalho.
“A reestruturação em curso nos grandes bancos passa pela introdução acelerada de novas tecnologias e a digitalização dos processos, mas, principalmente, pelo encolhimento das estruturas físicas e de pessoal”, avalia o Dieese.
Tarifas x despesas com pessoal
O corte de postos de trabalho no sistema financeiro torna-se ainda mais injustificável quando analisada a receita dos cinco maiores bancos com tarifas cobradas dos clientes, que teve crescimento de 9,5% em 2016. Somente com estes recursos, os bancos cobrem entre 100% e 156% das suas despesas com pessoal.
Fechamento de agências
Em 2016, o Itaú fechou 168 agências e o Santander, oito. BB e Caixa têm 11 e oito unidades a mais em relação a 2015, respectivamente, mas o Dieese alerta que os dois bancos públicos planejam fechar centenas de agências em 2017 no âmbito do processo de reestruturação em curso nas duas instituições. O saldo positivo de 807 unidades no caso do Bradesco leva em consideração a incorporação do HSBC.
Sistema financeiro
O Dieese enfatiza que o desempenho dos bancos em 2016 reforça a necessidade de ampliar o debate sobre o papel do sistema financeiro nacional e a necessidade de contrapartidas não apenas para trabalhadores do setor, mas também para toda a sociedade.
“Permanece a necessidade de se ampliar e se aprofundar o debate sobre o papel desempenhado pelo sistema financeiro nacional, especialmente no que se refere aos três maiores bancos privados, tendo em vista que, mesmo diante do quadro fortemente recessivo que atinge o Brasil, esses bancos apresentaram resultados que podem ser considerados invejáveis por empresas de diversos portes e setores. Por outro lado, e justamente por conta desse desempenho excepcional diante da atual conjuntura, que é preciso cobrar contrapartidas não apenas para os trabalhadores, mas para o conjunto da sociedade brasileira”, conclui o estudo.
Fonte Com informações do Seeb SP
Postado por Fernando Diegues em Notícias