Sem bancos públicos, quem financia a produção?
“O sonho do oligopólio bancário brasileiro é eliminar o que chamam de concorrência desleal dos bancos públicos. E vão fazer isso encarecendo os custos destes bancos. Simples assim”, resumiu Mário Bernardini, empresário do setor de máquinas e equipamentos. Segundo ele, mais do que uma resistência à privatização das instituições públicas, o Brasil precisa discutir um modelo de desenvolvimento.
Bernardini foi um dos debatedores da oitava edição do seminário “Bancos Públicos sob Ataque: Desafios, Riscos e Perspectivas”. O evento, desta vez em Curitiba, é uma parceria entre a Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa Econômica Federal e CartaCapital. Além do diretor da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos, compuseram o palco o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o presidente da Fenae, Jair Ferreira, e o jornalista Fernando Morais.
Este modelo de desenvolvimento, afirma o empresário, tem de levar em conta que o papel dos bancos é financiar a produção, o investimento e o consumo, o que não acontece no País. Quatro instituições financeiras privadas, recordou, concentram quase 60% do estoque de empréstimos.
“Se tirarmos dos bancos estatais o papel que têm desempenhado historicamente, de financiamento a longo prazo, quem vai bancar a casa própria? Quem vai financiar as máquinas, equipamentos, os bens de capital? Quem vai financiar os investimentos no Brasil? ”, perguntou.
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Para reforçar as afirmações de Bernardini, Ferreira lembrou que no Paraná existem atualmente 27 instituições financeiras em operação, que acumulam crédito de cerca de 120 bilhões de reais. Deste valor, cerca de 80% estão concentrados em apenas três instituições: Caixa Econômica, Banco do Brasil e Banrisul, todas públicas.
No caso do financiamento habitacional, o desequilíbrio entre instituições públicas e privadas é ainda maior. Os bancos privados são responsáveis por menos de 0,5% dos empréstimos. “O Paraná é apenas uma síntese do que acontece no Brasil”.
Belluzzo, por sua vez, se disse preocupado com os rumos do País. “Ao ouvir o que dizem os atuais gestores da política econômica, nota-se que as ideias nada têm a ver com o que acontece no mundo nos dias atuais. Eles caminham na contramão da história. Dizem coisas desconexas ”. E compara: enquanto o governo brasileiro acena com a redução do papel do BNDES, os Estados Unidos estudam a criação de um banco nacional de desenvolvimento.
Na China, prossegue Belluzzo, os bancos públicos são responsáveis por 80% do crédito. Ao contrário do Brasil atual, o que os chineses fizeram foi justamente se apropriar da globalização para montar uma estratégia nacional de desenvolvimento. “A visão política do governo atual é primária, tosca. Basta atentar às declarações do ministro Paulo Guedes. A última pérola foi afirmar que o ditador Augusto Pinochet transformou o Chile em uma Suíça”.
O jornalista Fernando Morais fez uma retrospectiva do papel social desempenhando pelos bancos públicos, em especial a Caixa Econômica Federal, com suas agências espalhadas por todos o Brasil. “A capilaridade da Caixa foi responsável pela agilidade e implantação de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. De nada adiantaria investir bilhões se não houvesse uma estrutura de ponta para atender a população. A Caixa tinha a radiografia do País, com dados e informações”.
Encontros como este promovido pela Fenae, disse Morais, deveriam se desdobrar em reuniões com sindicatos, movimentos sociais e comunidades de bases, para mostrar aos brasileiros a relevância e a importância das instituições públicas. “Querem vender o Brasil e começaram pelas empresas estatais. A sociedade precisa estar alerta e saber o que se passa. Esta responsabilidade é de todos nós”, concluiu.
Fonte Carta Capital
Postado por Fabiano Couto em Notícias