Sem cumprir resoluções da ONU, Israel tem conflito com palestinos há 60 anos

Para o professor de Geopolítica, Marcelo Buzetto, não há nada para se esperar da ONU na resolução do confronto. No atual conflito, que iniciou em 14 de novembro, ao menos 130 pessoas morreram em Gaza e cinco em Israel.

Uma nova ofensiva do Estado de Israel  sobre a Faixa de Gaza, em que vive parte do povo palestino, expõem o conflito que já dura mais de 60 anos. Com a operação "Pilar Defensivo", o exército israelense vem atacando o território palestino. A resposta armada palestina vem do grupo de resistência Hamas. Neste conflito, desde seu início no dia 14 de novembro, ao menos 130 pessoas morreram em Gaza e cinco em Israel. Outras 800 ficaram feridas.

Para saber mais sobre a história desse conflito e os desdobramentos atuais, a Radioagência NP entrevistou o professor de Geopolítica da Fundação Santo André, Marcelo Buzetto. Para ele, não há nada para se esperar da Organização das Nações Unidas na resolução do confronto. Ele analisa que os palestinos devem pressionar o órgão, “mas devem contar com suas próprias forças e com a solidariedade internacional”.

O que desencadeou o atual conflito armado entre Israel e Palestina?

Marcelo Buzetto: Em primeiro lugar, a guerra da Palestina, sua origem é em 1947, quando a ONU decide dividir a Palestina e criar dois Estados. Em 1948, foi criado o Estado de Israel, mas a ONU não assegurou a criação do Estado Palestino. Então, em 1948 e 49 teve a primeira guerra. De lá para cá, Israel tem ocupado mais territórios da Palestina, como as regiões de Gaza e Cisjordânia. Esse conflito tem se intensificado, principalmente, porque Israel não cumpre nenhuma das resoluções da ONU referentes à questão Palestina. E Israel não cumpre nenhuma das promessas feitas nos Acordos de Paz de 1993 e 1994. Então, como não se cria o Estado palestino, como não se assegura os direitos básicos da população palestina; e com essa nova onda de ataques israelenses contra lideranças palestinas do Hamas ou do Jihad Islâmico em Gaza, acabou obrigando o povo palestino a reagir da maneira que pode, diante de um dos mais poderosos exércitos do planeta.

Como vêm ocorrendo as tentativas de negociação entre palestinos e israelenses?

MB: Há tentativas de negociação desde 1988. Então, desde 88 a 1994, várias negociações foram feitas e acabaram resultando na criação da Autoridade Palestina e foram reconhecidos como territórios autônomos Gaza e Cisjordânia. Mas, na mesa de negociação, o governo israelense nunca quis debater questões fundamentais, por exemplo, a questão dos refugiados. Hoje tem 6 milhões de Palestina vivendo naquele território. E o território que hoje se chama Estado de Israel tem 6 milhões de israelenses. E tem 5 milhões de palestinos refugiados no mundo inteiro. Israel proíbe a volta dos refugiados palestinos. Até porque se os 5 milhões voltam para lá, a população seria de 11 milhões de palestinos e 6 milhões de israelenses, e isso iria ser muito favorável à luta do povo palestino.

E sobre as tentativas dos Acordos de Paz de 1993 e 94?

MB: O problema é que nas negociações que ocorreram em 93 e 94, os palestinos foram obrigados a fazer muitas concessões pela própria situação de dificuldade que os palestinos viviam, pobreza, miséria, exclusão social. E o que acontece é que Israel se comprometeu a trocar em 93 e 94 terra por paz, para que os palestinos pudessem ir se reorganizando na perspectiva de construir um governo autônomo, visando, no futuro, o Estado Palestino. Mas o Yitzhak Rabin, que era o primeiro ministro israelense, foi assassinado em 94 por um fundamentalista judeu, sionista, de extrema direita. E as negociações de paz de 94 para cá se deterioraram. Em 2004, Yasser Arafat [líder da Autoridade Palestina] morre. Então, os dois principais interlocutores desses acordos morreram.

Como você avalia a escala de violência empregada no confronto?

MB: O que ocorre em Gaza não dá para qualificar, eu diria hoje, como uma guerra. Porque para ter uma guerra pressupõe que se tenha dois exércitos em disputa. Os palestinos não têm exército. O Hamas não tem exército, não tem força aérea, não tem marinha. Então, não há uma guerra, há uma tentativa do Hamas responder, muito precariamente, à agressão israelense. Então, Israel começou a matar lideranças do Hamas de novo, matou também lideranças do outro partido que é a Jihad Islâmica. Os alvos que Israel está atacando em Gaza são alvos militares, são escolas, prédios, casas, residências. O número de mortos do lado palestino sempre foi e sempre será maior, pelo grau de poder militar que Israel tem, e que agora ataca de maneira bastante violenta e promove um genocídio em Gaza.

O que se esperar da ONU na resolução desse conflito?

MB: Absolutamente nada. Se a ONU quisesse resolver o conflito, já teria feito. Então, eu diria que da ONU não dá para esperar nada. Existem mais de 150 resoluções da ONU sobre a questão palestina que nunca foram cumpridas por Israel. O que não significa que os palestinos não devam cobrar a ONU, ou que a comunidade internacional algum país, algum governo não o façam. A ONU precisa ser cobrada, mas é preciso entender que não dá para alimentar ilusões, porque a ONU é dominada pelas potências imperialistas, e todas elas são favoráveis a Israel. Os palestinos devem sim pressionar a ONU sempre, mas eles devem contar com suas próprias forças e com a solidariedade internacional.

Fonte Radioagência NP
Postado por Fabiano Couto em Notícias

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