A presença cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho e a sua importante contribuição na composição da renda familiar não têm impedido a manifestação do preconceito contra elas, ainda que de forma velada.
Pesquisa realizada em toda a América Latina pela organização não governamental Latinobarômetro, do Chile, mostra que, em pleno século XXI, para 37% dos latinoamericanos “é melhor que a mulher se concentre no lar e o homem, no trabalho”. Entre os brasileiros, 33% fazem esta avaliação. Honduras foi o país onde o maior percentual de entrevistados tem esta visão (60%), enquanto o Uruguai apresentou o menor: 23%.
O estudo da instituição chilena foi feito em 2009 com o objetivo de analisar o desenvolvimento da democracia na América Latina. Ao todo, foram entrevistadas 20 mil pessoas, entre homens e mulheres de todo o continente. O resultado é praticamente o mesmo de outra pesquisa realizada há 13 anos e revela que a desigualdade ainda é vista como natural e que mudar esse entendimento tem sido difícil.
Segundo a pesquisa, ao medir a discriminação de gênero é possível prever o grau de tolerância e de democracia existente no país. E os resultados mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido para vencer as desigualdades e fazer com que todos compreendam que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos.
Três questões fundamentais nas relações de gênero foram avaliadas pela organização chilena: trabalho, política e condição econômica. E a conclusão foi a de que não houve evolução com relação à percepção do lugar ocupado pelas mulheres no trabalho e na política.
Situação econômica
Foi pedida a opinião dos entrevistados sobre a afirmação “se a mulher ganha mais dinheiro que o homem, é certo que haverá problemas” e 48% concordaram com ela, uma alteração de 4% em relação à pesquisa feita em 2004, quando o percentual ficou em 52%. Entre os brasileiros, no levantamento de 2009, 46% concordaram.
Já o tema da presença das mulheres na política foi medido com a afirmação: “Os homens são melhores líderes políticos que as mulheres”. O resultado mostrou que 31% dos entrevistados concordaram com a afirmação, variação de apenas 1% em relação à pesquisa feita em 2004.
Os técnicos do Latinobarômetro avaliam, no entanto, que o fato de terem sido entrevistadas 20 mil pessoas mostra que, embora as diferenças sejam pequenas percentualmente em relação aos levantamentos anteriores, em termos proporcionais o resultado é significativo pelo fato de terem sido entrevistadas 20 mil pessoas.
Para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do governo federal brasileiro – que divulgou o estudo no livro Com todas as mulheres, por todos seus direitos – “apontar e combater as práticas, hábitos e ideias que produzem e reproduzem desigualdades de gênero ainda são desafios para os movimentos sociais e para o governo brasileiro”.