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Dançando no abismo: o lucro do Bradesco em 2019
Com uma economia patinando em 1,1% de crescimento medíocre, com um estoque de desempregados, subempregados, desalentados e informais mal pagos de 30 milhões, com uma indústria em queda livre, o Bradesco se apresenta nos palcos da economia com um lucro escandaloso de R$25 bilhões, 20% acima do que obteve em 2018.
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É um acinte aos brasileiros e ao Brasil como Pais, é um lucro extorquido pelos juros abusivos sobre os mais pobres pendurados em cartões e cheque especial, em completo desalinho com os demais segmentos da economia. Há algo de profundamente errado nesse resultado.
A conta na sociedade brasileira está desequilibrada, o financismo está ficando com o filet mignon, a picanha, o cupim e o resto da sociedade com os ossos.
Amador Aguiar, fundador do Bradesco
A ironia é que esse é um banco criado com uma visão de povo, um banco para os mais modestos da sociedade dos anos 40 e 50, seu Amador, que tive o prazer de conhecer em sua casa, era um homem muito simples e criou seu império bancário de olho no Brasil mais modesto daqueles tempos.
Nos anos 50 pobre não tinha conta em banco: os operários recebiam seus envelopes das fabricas em dinheiro vivo. Conta em banco só classe média para cima; os bancos estavam em São Paulo na Rua Quinze e na Rua Boavista.
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Havia raras agencias em bairros e o Bradesco foi o primeiro que estendeu uma rede fora do Centro ao absorver o Banco Nacional Imobiliário, do banqueiro Orozimbo Roxo Loureiro – assumindo inclusive a casa dele no Pacaembu, que foi transformada em um clube de negócios, o Nacional Club e o Clube dos 500 na Via Dutra, um clube de golfe e resort no meio caminho SP-Rio. Estórias e lendas sobre seu Amador são muitas, e todas no eixo de sua simplicidade, embora não fosse santo.
Após sua morte, mudou aos poucos a alma do Bradesco: virou uma fabrica de milionários, com diretores no geral nascidos fora da aristocracia na base social de outros bancos como o Itaú (Setubal Villela), o Comercial do Estado de S.Paulo (Whitaker) o Brasul (Mellão), o Nacional do Comercio de S.Paulo (Paes de Almeida), o Commercio e Indústria de S.Paulo (Quartim Barbosa). Eles eram banqueiros da alta sociedade paulista; o negócio de banco na S. Paulo antiga tinha na raiz os barões do café do Império.
Já os diretores do Bradesco dessa geração começaram como bancários modestos e quando chegavam à Diretoria mudavam de escala e estamento: começavam no primeiro degrau da carreira e, depois da morte de seu Aguiar, se aposentavam como fazendeiros milionários. Seu Amador devia ter se revirado no tumulo com essas proezas de seus auxiliares.
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A era Amador Aguiar foi o ciclo virtuoso do Bradesco, pioneiro em quase tudo no mercado bancário moderno.
Com governança nebulosa e complicada, o Bradesco opera como banco sem dono aparente, um candidato obvio para uma estatização em um governo progressista, como fez o México com o BANAMEX e todos os grandes bancos nos anos 90, e a Inglaterra e a Itália no pós-guerra. A estatização de bancos não é nenhuma novidade nas economias capitalistas, geralmente é resultado de crises sociais agudas, como a que se prepara no Brasil.
Há de fato um desequilíbrio sistêmico numa economia onde há grande numero de empresas da produção, como usinas de açúcar e álcool, em recuperação judicial, onde no outrora cinturão industrial do ABC há avenidas inteiras de galpões industriais agora sem indústrias, como a Av.Rudge Ramos, e ao mesmo tempo um só banco tem um lucro sideral, extraordinário até em países ricos, que cresce em 20% em meio a uma recessão que já dura cinco anos.
No Chile, as administradoras das aposentadorias por capitalização, as AFB, também tiveram lucros estupendos em 2018, mas em 2019 a sociedade chilena entrou em convulsão por esse tipo de coisa. O lucro do Bradesco vai ser comemorado pelos “mercados”, mas para o Pais é um desastre.
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Escrito por: André Motta Araújo
Fonte Jornal GGN - 08/02/2020
Postado por Fabiano Couto em Notícias