O Sindicato dos Bancários de Curitiba e região promoveu uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (18) para fazer uma grave denúncia contra HSBC, uma situação de completa violação dos direitos humanos de trabalhadores. Em 2011, a entidade recebeu, anonimamente, um arquivo contendo dossiês e demais documentos de uma suposta investigação confidencial contratada pelo banco inglês.
Invasão de privacidade
Os materiais, produzidos pela SPI Agência de Informações Confidenciais, continham informações de 164 bancários afastados por motivo de saúde. Além de Curitiba, estavam funcionários do interior do Paraná e dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Nos dossiês, produzidos entre 1999 e 2002, havia fotos dos investigados e familiares, relatório completo da rotina dos trabalhadores, documentação relativa a antecedentes criminais e demais pendências judicias, certidões comerciais e de bens, a quebra de sigilo bancário dos investigados, além de 18 horas de gravação de imagens.
O banco extrapolou todos os limites ao invadir a privacidade dos seus empregados. Nos documentos da investigação chegam a constar fotos do lixo dos bancários, especulando que tipo de comida, bebida ou medicamento eles faziam uso.
Essa empresa fez filmagens, fotografias, seguiu as pessoas em supermercados, faculdades e academias. Houve casos de arapongas que se disfarçaram de vendedores ou até mesmo de cabos eleitorais para entrar na casas das pessoas. É assustador.
É inaceitável que qualquer empregador exponha seus trabalhadores a uma situação como esta, principalmente quando estes estão fragilizados pelo adoecimento e pelo afastamento do trabalho. Junto com o material recebido, estavam ainda contratos e notas fiscais que comprovam a contratação da empresa SPI Agência de Informações Confidenciais pelo HSBC.
O banco solicitou a investigação para verificar se os bancários afastados legalmente possuíam outro vínculo empregatício ou fonte de renda e também para se municiar de provas para descaracterizar o adoecimento por motivo de doença do trabalho.
O HSBC extrapolou todos os limites do bom-senso e os trabalhadores foram duplamente penalizados, em primeiro lugar por terem adoecido no trabalho e, depois, por terem sido vigiados 24 horas por dia.
Encaminhamentos
Em julho de 2011, com o intuito de reparar o dano coletivo e não incorrer na prescrição, o Sindicato formalizou a denúncia contra o HSBC junto ao Ministério Público do Trabalho e encaminhou o material recebido anonimamente para investigação e apuração dos fatos.
Sabemos que o HSBC e a empresa contratada já foram ouvidos. E temos certeza que o Ministério Público agirá em defesa dos trabalhadores, propondo uma ação civil pública que repare os danos coletivos causados pelo banco.
A entidade também dará encaminhamento a ações de dano moral individual e levará a denúncia contra o HSBC à Organização Internacional do Trabalho (OIT), ao Governo Federal e demais instâncias de defesa dos direitos humanos.
Ministério Público
Conforme a Agência Brasil, o procurador do MPT encarregado da investigação, Humberto Mussi, informou que, por enquanto, não dará entrevistas. Por meio da assessoria de imprensa do órgão, ele disse que a apuração do caso é complexa e que, por envolver a intimidade dos trabalhadores, também é sigilosa.
Ainda segundo Mussi, muitas pessoas já foram ouvidas nos últimos meses e, "em breve", ele tomará uma decisão a respeito do caso.
HSBC
Procurado pela Agência Brasil, o HSBC não se pronunciou a respeito da denúncia. Por meio de sua assessoria de imprensa, o banco alegou que acusações relativas ao período de 1999 a 2002 estão em trâmite judicial e que, por isso, a instituição não se manifestará.