A queda da rentabilidade, fruto de um cenário com juros e spreads menores (diferença entre o custo de captação e a taxa de juros efetivamente cobrada), e a expectativa de crescimento mais acelerado de alguns países da América Latina está levando os bancos brasileiros a olhar com mais atenção para outros mercados, em especial o México e Colômbia.
Na semana passada, até o Bradesco, que sempre disse preferir se concentrar no mercado brasileiro, pediu e recebeu autorização do Banco Central para constituir um banco múltiplo no México e que encaminhará para as autoridades mexicanas essa mesma demanda. Procurada, a instituição informou que "a autorização faz parte do processo burocrático de aquisição do Ibi México". Essa operação foi realizada em 2010 e rendeu mais de um milhão de clientes mexicanos na época.
O banco afirme que a compra do Ibi México - a instituição já havia comprado o Ibi, financeira da C&A no Brasil - foi apenas uma questão de oportunidade e de que não há intenção de ter operações de varejo fora do Brasil. Mas pouco a pouco há uma diversificação geográfica.
Se no início a relação com os consumidores mexicanos se restringia ao financiamento ao consumo na varejista por meio do cartão de crédito, a Bradescard México passou a ofertar também financiamento a pessoas físicas e a distribuir seguros odontológicos da empresa mexicana Total Dent.
Na avaliação de analistas, o Brasil continuará como prioridade para os grandes bancos que por aqui já atuam, mas é compreensível que outros mercados a interessar. Itaú e Banco do Brasil estão entre as instituições que não escondem o interesse em avançar no mercado latino.
"Queremos ser o banco de escolha dos clientes na América Latina". A afirmação é de Rogério Calderón, diretor de controladoria corporativa e relações com investidores do Itaú Unibanco.
O conglomerado, que já tem bancos no Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai, inaugurou recentemente um banco de investimentos na Colômbia e prepara-se para fazer o mesmo no Peru. Mas o alvo da cobiça da instituição é outro: o México, onde o Bradesco está na frente, com a operação de cartões. O Itaú, por sua vez, tem apenas uma presença tímida no país, também com uma operação de cartões que fatura o equivalente a R$ 85 milhões e emprega 40 pessoas. "É mais como um posto avançado de observação."
O executivo lembra que o México é hoje o que era o Brasil há 10 anos: economia grande, classe média emergente, relação entre crédito e PIB na casa dos 20%. A diferença em relação ao Brasil é que há mais crédito imobiliário no mercado mexicano mas, por outro lado, o crédito ao consumo é muito pequeno. Ou seja, há muito a fazer e a conquistar no mercado financeiro, o que atrai o interesse nos banqueiros brasileiros.
No entanto, Calderón diz que, embora os investidores tenham "descoberto" o México há pouco tempo, os ativos lá já estão caros em relação aos brasileiros. "Estamos olhando oportunidades, mas não vamos comprar nada a qualquer preço", diz. No começo deste ano, o Itaú BBA anunciou a intenção de entrar no país. "Nosso foco principal é o varejo, mas é difícil começar do zero.", informou. Para valer a pena, uma operação de varejo precisa de escala e, isso, somente comprando um banco já estabelecido. O setor bancário mexicano conta, tradicionalmente, com uma forte presença de estrangeiro, como o Santander e o BBVA.
O Itaú patrocinou em meados deste ano a primeira pesquisa anual sobre o que pensam analistas e investidores sobre o setor bancário na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, e as perspectivas para o ano que vem. Os resultados do levantamento, realizado em outubro pela consultoria Management & Excellence e obtida com exclusividade pelo BRASIL ECONÔMICO, mostram que a Colômbia despontava na preferência dos entrevistados - economistas, analistas, gestores e investidores da Europa, Estados Unidos e América Latina (leia mais sobre a pesquisa na página ao lado). "Se a pesquisa fosse feita hoje, o resultado seria diferente: agora, o México hoje é a bola da vez", diz Calderón.
A ideia do Itaú de fazer uma aquisição para operar no varejo em outro país já foi testada pela própria instituição, no caso do Bank Boston no Chile, e também pelo Banco do Brasil, que possui quase 60% do argentino Patagonia.
Crescimento mais forte
Na avaliação de Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, o interesse por Peru, Chile, Colômbia e México está no fato desses países apresentarem em geral crescimento da economia superior ao do Brasil e de não haver neles resistência ao capital estrangeiro. "São economias bem intervencionistas, bem diferente do que ocorre na Argentina e Venezuela", afirma.
Santacreu não descarta a possibilidade dos bancos brasileiros realizarem novas aquisições no momento em que alguns bancos europeus estão se desfazendo de ativos para reforçar o caixa nas matrizes. "Esse é um caminho para se ter um pé em outros países."
Santacreu não descarta a possibilidade dos bancos brasileiros realizarem novas aquisições no momento em que alguns bancos europeus estão se desfazendo de ativos para reforçar o caixa nas matrizes. "Esse é um caminho para se ter um pé em outros países."
O BB, que é a instituição brasileira com mais presença no exterior, quer ampliar ainda mais essa atuação e o varejo está no foco. Depois da aquisição da participação no Patagonia e do Eurobank nos Estados Unidos, o banco público olha com atenção para os mercados da América do Sul, em especial Chile, Peru e Colômbia. "O Banco do Brasil quer ser efetivamente um banco global", afirmou João Carlos Nobrega Pecego, executivo do BB que ocupa a vice-presidência do Patagonia.