O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, recebeu do banco em 2010 em salários e bônus a impressionante quantia de R$ 10,4 milhões, segundo matéria da Folha de S. Paulo de 15/07. Os ganhos astronômicos do executivo contrastam com a remuneração dos funcionários da empresa.
Um bancário do Bradesco que recebe o piso da categoria acumularou no ano aproximadamente R$ 26,4 mil - incluídos regra cheia da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), ticket refeição e vale alimentação. Dessa forma, o presidente da empresa recebe 394 vezes mais que os funcionários com os menores salários do banco.
O Banco do Brasil também divulgou o salário de seu presidente, Aldemir Bendine: R$ 800 mil no ano, um valor 26,6 vezes maior que o ganho aproximado de um funcionário do BB que recebe o piso (também incluídos PLR e tickets).
Os valores foram declarados pelos bancos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), seguindo determinação da própria entidade que obriga companhias abertas a divulgarem os salários dos principais executivos.
Outros bancos
O Itaú Unibanco não divulgou à CVM o valor dos rendimentos de seu presidente, Roberto Setúbal, em 2010. No entanto, segundo reportagem do jornal DCI do dia 23 de maio, o banco destinou para o pagamento de sua diretoria estatutária o montante de R$ 87,6 milhões em 2010.
Dessa forma, cada um dos 15 diretores do banco recebeu uma média de R$ 5,84 milhões no ano, ou seja, 221 vezes a mais do que a renda estimada de um bancário que recebe o piso da categoria (consideradas PLR e tickets).
O então presidente do Santander, Fábio Barbosa, não é citado na reportagem da Folha (por que?), mas a assembleia de acionistas de 2010 aprovou uma remuneração nada modesta anual de R$ 246,56 milhões para os administradores do banco. Esse montante seria pago a 48 diretores e parte para os nove membros do Conselho de Administração. Dividindo-se o valor para os 48 diretores, chega-se a uma média de R$ 5,136 milhões por pessoa - 194 vezes mais que o estimado para um bancário que recebe o piso.
Transparência
A medida adotada pela CVM visa aumentar a transparência nas empresas com capital aberto, possibilitando aos acionistas um melhor acompanhamento de seus investimentos. No entanto, quase metade das 50 maiores companhias não divulgaram a renda de seus executivos, segundo a matéria da Folha - entre elas, o Itaú Unibanco. E mesmo entre as que divulgaram, muitas o fazem de forma errada ou fora do padrão.
"As empresas que omitem o dado, considerado peça importante para compreender os riscos assumidos pela alta gerência, se apoiam em uma liminar obtida pelo Ibef-RJ (Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças) que garante o direito ao sigilo. A alegação é de risco à segurança dos empresários", diz a reportagem.
Segundo Alexandre di Micelli, coordenador do Centro de Estudos em Governança da Fipecafi, o caso do Banco PanAmericano é um exemplo de falta de informações. "O formulário do ano passado não informava qualquer valor relativo a bônus, embora tenha ficado claro no escândalo que os executivos recebiam bônus polpudos do banco. É preciso haver alguma forma de aferir a precisão das informações divulgadas", afirmou ele à Folha.
Em outros países, o valor dos salários dos executivos é bem conhecido. Nos Estados Unidos, diz o texto da Folha, foi através desses valores que os reguladores puderam saber quais instituições haviam assumido maiores riscos com os empréstimos imobiliários do "subprime", que levaram à crise de 2008.